segunda-feira, 4 de abril de 2011

A História da Cerveja no Brasil

Depois de muito tempo sem postar nada sobre cerveja (ou sobre qualquer outro assunto) lembrei-me de um material muito interessante sobre a história da cerveja. Esse texto, tal qual postado aqui, foi enviado pela Cátia e Carol; depois pesquisando um pouco melhor, encontramos esse mesmo texto no site www.portalsaofrancisco.com.br .
  Na época precisávamos fazer uma apresentação no curso técnico em Vassouras-RJ, na disciplina Legislação e História da Cerveja...caiu feito luva...ou melhor: feito cerveja.
Como é um texto extenso, resolvi dividi-lo para que a leitura não se torne cansativa. 

 1ª Parte - Os primódios



         "A cerveja é um produto com longa tradição no Brasil, surgindo já referências a esta bebida em documentos que datam do século XVII. No entanto, a sua ascensão foi demorada e tortuosa, sendo que, no início do século XIX, a cachaça e o vinho eram as bebidas alcoólicas preferidas pelo povo. Nessa época, a cerveja já era produzida, mas o seu consumo não se encontrava generalizado, antes permanecendo como uma produção caseira e típica de populações imigrantes. Por outro lado, devido à pressão e influência portuguesas, o vinho era a bebida mais comercializada. Tal situação só seria modificada com a abertura dos portos brasileiros a artigos de outras origens que não portuguesa, sendo a cerveja um desses produtos.
         O consumo foi crescendo gradualmente e, em 1836, surgiu a primeira notícia sobre a fabricação de cerveja no Brasil. Esse anúncio, publicado no Jornal do Comercio do Rio de Janeiro, dizia o seguinte: "Na Rua Matacavalos, número 90, e Rua Direita número 86, da Cervejaria Brazileira, vende-se cerveja, bebida acolhida favoravelmente e muito procurada. Essa saudável bebida reúne a barateza a um sabor agradável e à propriedade de conservar-se por muito tempo". Tal seria o ponto de arranque para o desenvolvimento da cerveja a um nível mais comercial.    Em 1846, Georg Heinrich Ritter instala uma pequena linha de produção de cerveja na região de Nova Petrópolis - RS, criando então a marca Ritter, uma das precursoras do ramo cervejeiro.
         A década de 40 do século XIX foi um período de grande desenvolvimento no fabrico e consumo de cerveja. Para além da já mencionada cerveja Ritter, muitas outras aproveitaram o caminho anteriormente desbravado, como sejam os casos da firma Vogelin & Bager, que abriu uma cervejaria no bairro do Jardim Botânico no Rio de Janeiro, ou a Henrique Leiden e Cia, que deu origem à Imperial Fábrica de Cerveja Nacional, também no Rio de Janeiro.


 O Almanak Laemmert dá-nos a conhecer muitas outras cervejarias que foram abrindo um pouco por todo o Brasil, desde Joinville - SC a São Paulo - SP, passando por Petrópolis e Niterói - RJ. Na década seguinte, apareceu uma nova leva de industriais interessados em investir neste negócio florescente. Para dar apenas alguns exemplos, recordamos a Fábrica de Cerveja Nacional de Alexandre Maria VillasBoas & Cia, no Rio de Janeiro - RJ, a Fábrica de Cerveja de Thimóteo Durier, em Petrópolis - RJ, a Fábrica de Jacob Nauerth no Rio de Janeiro - RJ, a Fábrica de Cerveja Guarda Velha de Bartholomeu Correa da Silva, também no Rio de Janeiro e a Fábrica de Cerveja de Friederich Christoffel, em Porto Alegre - RS. Poderíamos aqui incluir muitas outras, mas o nosso objetivo não passa por enumerá-las todas. Queremos apenas demonstrar a grande quantidade de fábricas e cervejarias que foram surgindo entre os anos 40 e 80 do século XIX, algo que permitiu uma grande expansão no consumo de cerveja, fato esse que levou a que esta bebida se tornasse a mais popular do Brasil. 

         Curiosamente, até ao estabelecimento da cerveja como bebida rainha, o produto mais procurado e consumido pela população era a "Gengibirra", feita de farinha de milho, gengibre, casca de limão e água. Após a mistura dos ingredientes, deixava-se a infusão a descansar alguns dias, sendo posteriormente vendida em garrafas ou canecas. Também popular era a "Caramuru", feita de milho, gengibre, açúcar mascavado e água, sendo que esta mistura costumava fermentar por uma semana antes de ser consumida. Todavia, e como referimos, estes produtos passaram a sofrer uma forte concorrência por parte da cerveja, sendo exemplo disso o pequeno bar "À Cidade de Berna", local de grande sucesso onde era servida a Cerveja Bávara, então produzida pela Stupakoff & Cia. Por essa altura, o Rio de Janeiro já era uma cidade comparável a outras da Europa, possuindo um mercado consumidor relevante. A venda de cerveja era feita ao balcão da própria cervejaria, que atendia a particulares. As entregas eram feitas por carroças, que se deslocavam às zonas comerciais dos bairros adjacentes. 
         Em 1882 formou-se uma sociedade que iria dar origem a uma marca que, ainda hoje, desempenha um papel de grande relevo na indústria cervejeira brasileira. Assim, surge a expressão "Antarctica", fruto da associação entre Louis Bucher e Joaquim Salles, este último proprietário de um matadouro de suínos com aquele nome, local onde possuía uma máquina de fazer gelo. Tal fato revestiu-se de enorme importância pois as fábricas não produziam cerveja com marca alguma, já que esta era vendida diretamente dos barris e, nos poucos casos em que era engarrafada, não possuía um rótulo próprio. O passo seguinte para esta sociedade foi a criação da "Antarctica Paulista - Fábrica de Gelo e Cervejaria", firma que, como o nome indicava, se dedicava à produção de gelo e produtos alimentícios. No entanto, esta marca não ficaria por muito tempo sozinha no mercado.



Em 1888, um imigrante suiço de nome Joseph Villiger, acostumado ao sabor das cervejas europeias e inconformado com a má qualidade das cervejas fabricadas no Brasil, resolveu abrir o seu próprio negócio, começando a fazer cerveja em casa.
         Deste modo, a 6 de Setembro desse ano, é registada a "Manufactura de Cerveja Brahma Villiger & Companhia", fundada pelo próprio Villiger, por Paul Fritz e por Ludwig Mack, sendo então comercialmente lançada a Cerveja Brahma. A manufatura foi inaugurada com uma produção diária de 12.000 litros de cerveja e 32 funcionários. Começava aí uma luta que sobreviveu até aos nossos dias! O crescimento de ambas as empresas é grande e quase imediato. Em 1889 é publicado o primeiro anúncio de uma marca de cerveja brasileira: "Cerveja Antarctica encontra-se à venda na Rua Boa Vista, 50 A", podia ler-se no jornal "A Provincia de São Paulo" (atualmente o "Estado de São Paulo"). No ano seguinte, a Antarctica aumenta o seu quadro de funcionários para 200 e a sua capacidade de produção passa a ser de 40 mil hectolitros/ano. Este desenvolvimento leva a que a empresa se transforme numa sociedade anônima, com 61 acionistas, passando então a chamar-se de "Companhia Antarctica Paulista SA". Dois desses acionistas, João Carlos António Zerrener e Adam Ditrik von Bullow, eram sócios numa empresa de importação, em Santos, algo que facilitou a compra de máquinas e de matéria-prima para a cervejaria. Contudo, este grande crescimento não foi sustentado, pelo que ainda em 1893 a Antarctica se encontra à beira da falência, sendo então comprada pela sua principal credora, a empresa Zerrener, Bullow & Cia. De fato, este fenômeno de rápido surgimento de muitas marcas no mercado, era posteriormente acompanhado do desaparecimento de muitas outras. Assim sendo, a maior parte delas não chegaram aos nossos dias ou mudaram de donos. Como exemplos, temos as cervejas Bock e Victória da Cervejaria Feldmann de Blumenau - SC, que já não existem, a cerveja Caracu, inicialmente pertença da Cervejaria Rio Claro, em Rio Claro - SP e que hoje faz parte do portefólio da AmBev ou a Cervejaria Bavária, localizada na Moóca, que foi adquirida em 1904 pela Antarctica, que aí instalou a sede do seu grupo.
         Quem não parava era a Brahma. Em pouco mais de uma década esta empresa viria a registrar quase uma dúzia de marcas, como são exemplos a cerveja Bier, a Crystal, a Pilsener, a Franziskaner-Brau, a Munchen, a Guarany, a Ypiranga, a Bock-Ale ou a Brahma Porter, para apenas nomear algumas. A expansão da firma fazia-se também à custa da aquisição e fusão com outras empresas, como aconteceu em 1904, ano em que surgiu a Companhia Cervejaria Brahma, resultante da união entre a Georg Maschkle & Cia. – Cervejaria Brahma e a Preiss Haussler & Cia. – Cervejaria Teutônia (produtora, entre outras, das cervejas Excelsior, Teutonia e Munchen-Bock). A notoriedade da Brahma era também obtida através de fortes campanhas publicitárias e do patrocínio que dava a bares, restaurantes e artistas. Para além do mais, a importação de novos equipamentos e a melhoria geral da qualidade da sua maquinaria proporcionou-lhe a obtenção de uma boa imagem junto dos consumidores. Nesta altura, a produção de chope em tonéis chega já aos 6 milhões de litros e a distribuição conta com 9 depósitos situados no centro do Rio de Janeiro. Este crescimento contínuo foi acompanhado, durante os primeiros anos do século XX, do lançamento de novas marcas, casos da ABC, da Bock-Crystal, da Bramina, da Bull Bock, da Rainha ou da Colombo.


         Pode parecer surpreendente o grande número de marcas lançadas por uma única empresa, neste caso a Brahma, mas o mercado cervejeiro do início do século passado encontrava-se em grande ebulição, com a fundação de inúmeras indústrias um pouco por todo o Brasil, sendo que cada empresa tratava logo de registrar um elevado número de marcas diferentes, por forma a assegurar uma determinada  fatia do mercado. Não querendo fazer um rol muito extenso de todas as marcas que foram sendo criadas, convém enumerar algumas, por forma a ficar-se com uma idéia da pujança da indústria cervejeira da época. Comecemos em 1903, ano em que a Cervejaria Mora de Petrópolis – RJ, se tornou na Fábrica de Bebidas Cascata, produtora das cervejas Cascata Preta e Cascata Branca. Em 1906, a Cervejaria Kuhene lançou a “Progresso 1906”, cerveja criada com o objectivo de comemorar a inauguração da estação ferroviária de Joinville. Um ano depois, a fábrica de cerveja Caetano Carmignani, em Pirassununga, começa a elaborar a cerveja preta Cavalinho, isto após adquirir novas máquinas e equipamentos. Já em 1912 é inaugurada a Cervejaria Tripolitana, fabricante da Tripolitana e com sede em Cachoeira do Itapemirim – ES. Resumindo e só para se ficar com uma idéia geral, basta dizer que um ano antes do início da Grande Guerra, isto é, em 1913, existiam 134 cervejarias só no estado do Rio Grande do Sul!

         A 1ª Guerra Mundial não trouxe grandes alterações ao panorama cervejeiro do Brasil. O facto da guerra se desenrolar principalmente na Europa e de a importação de cerveja estrangeira ser diminuta ou mesmo nula, fez com que não só o consumo como também a produção se mantivessem a níveis bastante elevados e em franco crescimento. Das poucas notícias que nos chegaram relativamente à influência que esta guerra teve na indústria cervejeira brasileira, há que destacar o facto da viúva Kremer, proprietária da Cervejaria Germânia, ter sentido a necessidade de alterar o nome da sua empresa para Cervejaria Americana. Além disso, notou-se um ligeiríssimo abrandamento no lançamento de novas marcas no mercado: a Brahma surgiu com a Carioca, a Fidalga, a Suprema e a Malzbier e a Companhia Cervejaria Paulista passou a distribuir a Níger, Poker e Trust. E pouco mais há a realçar! O fim da década de 1910 é atingido rapidamente, sem que aconteçam alterações substanciais no tecido empresarial e no mercado cervejeiro brasileiro.

         Durante este período, assistiu-se à consolidação da cervejaria Brahma como a mais influente e dinâmica da sua área. Em 1921, esta empresa adquiriu a Cervejaria Guanabara, uma das mais antigas do país, confirmando assim a sua vocação expansionista. O seu crescimento era, logicamente, combatido por outras fábricas e marcas, quer isso se fizesse através do lançamento de novos produtos, quer através da utilização de meios publicitários. Uma das firmas que se entregou a essa "luta" foi a Companhia Cervejaria Adriática, que anunciava nos jornais com relativa frequência. Num desses anúncios, a Adriática mencionava a entrada no mercado de 15 mil dúzias de Adriática Pilsen, Adriática Poschorr, Operária e Primor, assim como "da muito afamada Cachorrinha", todas "leves e límpidas no seu amarelo-topázio".

A História da Cerveja no Brasil - A partir da década de 30

  2ª Parte 

Após um breve histórico dos primórdios da fabricação e consumo de cerveja no Brasil, iremos voltar nossa atenção para as marcas que assumiram, não só, a liderança do mercado, mas também a vanguarda tecnológica. E nestas áreas destacaram-se duas empresas: a Brahma e a Antarctica. Considerando que só a partir dos anos 30 do século XX se começou a definir com alguma precisão  o conceito de marca, já que, como referimos anteriormente, muitas cervejas eram lançadas para o mercado sem nome próprio. Faremos a partir daqui uma análise à história de cada uma individualmente.


A história da Antarctica desenvolveu-se a par da Brahma. Após os primeiros anos de alguma indefinição e de contínuas mudanças, a firma estabilizou, tornando-se numa das maiores empresas brasileiras do setor das bebidas.  
Em 1935 os piguins passaram a fazer parte do rótulo da Antarctica junto a uma estrela dourada, a idéia dos piguins foi de uns dos sócios da Antarctica, antes da cervejaria Antarctica sem estabelecida em um deposito de gelo, um dos sócios teve essa referência do antigo deposito de gelo (associou a idéia) colocando o nome da cerveja de Antarctica e depois de anos colocando os piguins no rótulo da cerveja.(Site: http://www.webdeko.com.br/designrotulado/?tag=antartica)
Em 1940, os proprietários da Companhia Antárctica Paulista, Antonio e Helena Zerrener, alemães de nascença, falecem  não deixando herdeiros. A companhia passou então por diversas mãos, até ser comprada por vários investidores e se tornar na Companhia Antarctica Paulista – Indústria Brasileira de Bebidas e Conexos, com fábricas em Bom Retiro (Cerveja Progresso e cerveja preta) e na Mooca (cervejas claras). Esta reformulação da empresa permitiu-lhe crescer e ficar mais forte, lançando-se então numa sucessão de aquisições, sendo talvez a de maior destaque a da Cervejaria Adriática, instalada em Ponta Grossa - PR. Esta companhia, pertencente aos Thielen, família de origem alemã, tinha ganho algum destaque na indústria cervejeira, principalmente através da cerveja Original, produzida, quase como a conhecemos ainda hoje, desde 1930. O desenvolvimento da Antarctica passou também pela constituição de uma maltaria própria, neste caso em Jaguaré, São Paulo, e por mais uma aquisição, nomeadamente o antigo prédio da Fábrica de Cerveja e Gelo Colúmbia, em Campinas - SP, que passou a servir de depósito à fábrica adjacente.  Infelizmente, esse prédio encontra-se vazio e abandonado desde 1989.


Em 1960, a Antarctica celebrou 75 anos de história possuindo, por essa altura, uma capacidade de produção de 3,9 milhões de hectolitros/ano, número que engloba cervejas e refrigerantes. À medida que as vendas iam crescendo, também aumentava o número de empresas concorrentes. Uma dessas empresas era a Cervejaria Bohemia, produtora da cerveja Bohemia e também do Guaraná Petrópolis, grande concorrente do Guaraná Antarctica. Para eliminar esse foco de competição, a Antarctica adquiriu o controle acionário da cervejaria Bohemia, marca essa que ainda hoje faz parte do portfolio da AmBev. Com as constantes aquisições, a Antarctica tinha-se tornado num gigante industrial, sempre atento a novas oportunidades de mercado e a tendências de consumo. Pelo caminho, outras empresas iam ficando sob a sua alçada, casos da Polar, empresa do estado do Rio Grande do Sul, ou da Cerman, da Cervejaria Catarinense (que se instalou em Joinville, em 1938) e, talvez a mais importante de todas, a Companhia Cervejaria Paulista. Esta firma, de grandes tradições e instalada em Ribeirão Preto desde 1911, iniciou uma tradição nesta cidade, local onde abririam inúmeras choperias, entre as quais a famosa Choperia Pinguim, ao lado do Theatro Pedro II. De fato, não é por acaso que Ribeirão Preto foi denominada a Capital do Chope!



         O ano de 1973 foi caracterizado por um conjunto de medidas postas em prática pela Diretoria da Empresa, tendo em  vista a descentralização das atividades industriais e comerciais do complexo empresarial Antarctica. Nesse ano foram constituídas empresas com personalidade jurídica própria, em vários Estados brasileiros, a saber:
a) Companhia Sulina de Bebidas Antarctica, com sede em  Joinville (SC), que passou a operar a partir de Abril de 1973, com a incorporação das unidades de Ponta Grossa e Curitiba;
b) Cervejaria Antarctica Niger S/A, de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, resultante da fusão, no mesmo ano, da Cervejaria Antarctica de Ribeirão Preto S/A, com a Cervejaria Níger S/A;
c) Indústria de Bebidas Antarctica do Rio de Janeiro S/A, resultante da Fusão da Cervejaria Antarctica da Guanabara Ltda, com a Companhia Cervejaria Bohemia, de Petrópolis. A entrada na década de 70 é, pois, feita em grande, com mais uma mão cheia de aquisições e inaugurações.
         Assim, a Antarctica adquire ainda a Cervejaria Pérola de Caxias do Sul/RS e a Companhia Itacolomy de Pirapora/MG (em 1998/99 a produção da cervejaria em Pirapora foi estrategicamente transferida e centralizada na cidade de Jacarepaguá/RJ). No ano de 73 são também constituídas novas filiais em Goiânia - GO, Montenegro - RS, Rio de Janeiro - RJ e Viana - ES e nos anos seguintes são inauguradas as filiais no Rio Grande do Sul e Teresina. O desenvolvimento exponencial da firma foi também acompanhado por um crescente interesse no campo científico e tecnológico. Para isso, a Antarctica decidiu ampliar a sua malteria, situada em São Paulo, adquirindo, ao mesmo tempo, uma área de 14,32 hectares em Paulo de Frontin - PR, destinada à pesquisa e experimentação agrícolas com a cevada cervejeira.


Assegurada que estava a sua estabilidade e representatividade em território brasileiro, importava agora  alcançar  novos desafios e explorar outros mercados. Os anos 80 são, por isso, dedicados à internacionalização da companhia, iniciando-se então a exportação de produtos da Antarctica para a Europa, Ásia e Estados Unidos. Curiosamente, o produto que acabou por ter mais sucesso foi o Guaraná, já que as cervejas da marca tiveram algumas dificuldades em se impor nos mercados mencionados.
         A comercialização de produtos para outros países obrigou a um aumento na produção de bebidas, sendo produzidos 16,4 milhões de hectolitros/ano em 1980. Para acompanhar a demanda foi necessária a aquisição de novas fábricas e a abertura de novas filiais. É assim adquirida, ainda em 1980, a Cervejaria Serramalte, com as suas fábricas de Getúlio Vargas e Feliz - RS.


         Esta companhia, fundada em 1953, tinha como origem a Cervejaria Ruschel, fundada por Victor Ruschel tendo, posteriormente, passado a designar-se por Cervejaria Polka, até chegar ao nome de Cervejaria e Maltaria da Serra, Ltda. (Serramalte). Ao longo dos anos, apresentou uma evolução extraordinária, cotando-se mesmo como uma das maiores da região e do estado e uma das principais do ramo no país. Do início das suas atividades até 1957, a indústria funcionou apenas com o setor da malteria, sendo que a venda da sua produção se limitava às regiões Central e Norte do país, enquanto era construída e montada a cervejaria. A 24 de Junho de 1957, foi lançada a primeira cerveja Serramalte. Todavia, a compra das fábricas da Serramalte continuava a ser insuficiente, e, em 1985, se inicia a construção de uma fábrica da Antarctica em João Pessoa - PB, que começa a produzir três anos mais tarde. Nesta altura é também inaugurada a Fábrica de Cervejas Antarctica no Rio de Janeiro, com capacidade de produção de 3,5 milhões de hectolitros/ano. O número de filiais também não param de crescer, sendo aqui enumerados apenas algumas: Filial Jaguariúna - SP, Filial Canoas - RS, Filial Cuiabá - MT, e outras espalhadas um pouco por todo o Brasil, totalizando 25.

         A última década do século passado é aproveitada pela Antarctica para renovar a sua gama de produtos, começando pelo lançamento da Kronenbier, uma das primeiras cervejas sem álcool do mercado brasileiro. Além desta, muitas outras surgem, novas ou apenas renovadas: a Antarctica Bock, a Polar, a Polar Pilsen, a Bavária Premium, a Antarctica Pilsen Extra em long neck, a Antarctica Pilsen em long neck com rótulo metalizado e ainda a Bavária Pilsen em garrafa 600ml descartável e em lata.
         Finalmente destaca-se o acordo entre a companhia e a gigante cervejeira norte-americana Anheuser-Busch no sentido de ser constituída a Budweiser Brasil, que tinha como objetivo a distribuição da cerveja Budweiser nos postos de revenda da Antarctica e, em troca, a venda do Guaraná Antarctica nos Estados Unidos. Mas  o grande destaque desta década vai para a  união entre a Companhia Antarctica Paulista e a Companhia Cervejaria Brahma, daí resultando a AmBev.





A Brahma foi fundada em 1888 pelo imigrante suiço Joseph Villiger. A empresa, então instalada na Rua Visconde de Sapucaí 128, adaptou o nome de uma divindade da Índia, muito venerada junto das águas do lago de Pushkar, sendo que quem aí se banha tem todos os seus pecados perdoados, por piores que estes sejam. 


         A primeira imagem associada à Brahma representava uma mulher envolta por ramos floridos de lúpulo e cevada, sendo esta a componente do também primeiro rótulo da marca.
         Após algumas fusões e aquisições aqui enumeradas, a Brahma era, no início da década de 30, uma empresa bem estruturada e voltada para o futuro. A aposta em novas tecnologias e publicidade criou uma grande afinidade entre a empresa e os consumidores, não sendo por isso de estranhar que, em 1934, fosse a Brahma Chopp a cerveja mais consumida no país. Nesse ano, a produção alcançou os 30 milhões de litros de cerveja. Ary Barroso e Bastos Tigre compuseram a marchinha "Chopp em Garrafa" que, cantada por Orlando Silva, publicitou fortemente este produto. Em 1937, a Brahma Chopp era a principal marca da firma ao lado de um portifólio de 29 tipos de cerveja e 16 tipos de refrigerante.


          Em 1943 é introduzida a Brahma Extra, cerveja com extrato forte e encorpado e que tinha o slogan "Extra no Sabor, Extra na Qualidade, Extra nos Ingredientes - Cerveja Brahma Extra, em garrafas ou 1/2 garrafas". Além do lançamento de novos produtos, a política de aquisições mantinha-se bastante ativa. Exemplo disso foi a compra do maior grupo cervejeiro do Rio Grande do Sul, a Bopp, Sassen, Ritter e Cia. Ltda, também conhecida por Cervejaria Continental, em 1946, que mais tarde se viria a tornar a filial Rio Grande do Sul; porém sendo desativada em 1998.


Em 1954, a empresa celebrou o seu quinquagésimo aniversário, tomando como base o ano de 1904, data em que a firma se tornou na Companhia Cervejaria Brahma, resultante da fusão entre a Cervejaria Brahma e a Cervejaria Teutônia. Nesse curto espaço de tempo, a empresa tinha-se tornado numa das maiores do Brasil, com 6 fábricas e 1 malteria. Para continuar a expandir-se, tornava-se urgente a elaboração de um plano de distribuição que abrangesse as áreas mais afastadas dos grandes centros urbanos. Para isso, a Brahma comprou pequenas empresas e criou filiais. Neste último caso, podemos dar como exemplos a filial de Agudos (SP), que nasceu a partir da antiga Companhia Paulista de Cerveja Vienense, que mais tarde passou a fabricar a cerveja em lata e a Filial do Nordeste, na cidade do Cabo (PE), que foi inaugurada em 1962. 
         Em 1968, é inaugurada, no Rio Grande do Sul, a Estação Experimental de Cevada para testes de novas variedades de cevada cervejeira, adaptadas ao clima e solo da região. Em 1971, através da Cervejaria Astra S.A., a companhia concretiza uma forte aliança para a fabricação e distribuição dos seus produtos no Norte e Nordeste do Brasil. A Astra tinha sido criada um ano antes pela firma J. Macêdo & Cia, em Fortaleza  (CE), produzindo então uma cerveja de marca própria. Ainda nesse ano, a J. Macêdo adquire o controle acionário da Cervejaria Miranda Corrêa, de Manaus – (AM)


         Os anos 70 são marcados pela contínua expansão da companhia e por algumas alterações na forma de apresentar os produtos. Logo em 72, a filial de Agudos lança a Brahma Chopp e a Brahma Extra em lata de folha de flandres. É também nesse ano que chega ao mercado a garrafa "personalizada", de vidro incolor e com o nome do produto gravado no vidro. Esta evolução iria dar origem, alguns anos mais tarde, ao lançamento da Brahma Chopp em garrafa própria, de vidro e cor âmbar (antes era engarrafada em vasilhames de qualquer cor). Destaca-se também a adoção dos engradados plásticos para o transporte de cervejas e refrigerantes, inovação levada a cabo pela filial da Brahma em Curitiba (antiga Cervejaria Atlântica, na posse da Brahma desde 1942). Realce igualmente para o pequeno número de novas cervejas que foram lançadas durante esta década. Tal iria manter-se durante os anos 80, período em que a Brahma apostou forte no mercado de refrigerantes.
         Todavia, a origem cervejeira da empresa nunca foi esquecida, pelo que não é de admirar que em 1980, com a exportação da Brahma Beer (Brahma Chopp), a revista "The Washingtonian" a tenha eleito como a melhor cerveja importada dos EUA. Para aumentar a sua participação no mercado cervejeiro, a empresa adquire o controle acionário das Cervejarias Reunidas Skol Caracu, S.A. Além da cerveja Skol, Chopp Claro Skol, da cerveja em lata Ouro Fino (destinada à exportação) e da histórica cerveja Caracu, a companhia deu continuidade à sua linha de produtos, elaborados em 7 fábricas espalhadas por todo o Brasil.
         Tecnologicamente avançada e com espírito empreendedor, a empresa lançou, em 1982, a Brahma Light, a primeira cerveja de baixa fermentação e baixo teor alcoólico produzida no Brasil. Em 1983, na cidade de Nova Iorque, a Brahma Light concorreu com mais de 972 trabalhos internacionais e 14 brasileiros ao prémio "Clio Awards", um dos mais prestigiados do mundo publicitário, tendo arrebatado o primeiro lugar.

         Em 1984, a Malt 90, apresentada em embalagens de garrafas retornáveis de 300 e 600ml e também em lata. Esta cerveja do tipo pilsen, apresentava cor clara, teor alcoólico médio e paladar suave. Infelizmente, não foi muito bem recebida pelos consumidores, tendo sua produção descontinuada.
          A internacionalização da marca e a sua grande aceitação no mercado interno fez com que o jornal alemão "Frankfurter Allgemeine Zeitung" a destacasse como a 7ª empresa de cerveja do mundo, numa avaliação com companhias de mais 90 países. Este reconhecimento econômico surgiu juntamente com o reconhecimento científico, obtido após a inauguração de uma moderna cervejaria piloto para o desenvolvimento de novos produtos, no laboratório da Filial Rio. Outra importante realização foi a inauguração, em 1988, de mais uma fábrica de cerveja, neste caso a Cebrasp, em Jacareí, São Paulo. Acompanhando a evolução do mercado a Brahma lançou igualmente o "Projeto Brahma para Reciclagem", introduzindo então a embalagem em lata de alumínio para a Brahma Chopp e também a embalagem descartável de 300ml para a Malt 90. O final da década fica fortemente marcado pela aquisição da Companhia Cervejaria Brahma pelo Grupo Garantia, iniciando-se então um período de reestruturação e construção de novas fábricas, como por exemplo a da Cervejaria Equatorial, em São Luis, (MA).

         A entrada na última década do século passado fez-se, pois, com excelentes perspectivas no futuro e com um espírito cada vez mais empreendedor. Deste modo, institui-se em 1991 o Serviço ao Consumidor Brahma, junto com o Código de Defesa do Consumidor, visando garantir apoio e satisfação aos clientes. Durante o ano de 1992 inicia-se o esforço de exportação da Brahma Chopp para a Argentina onde, ao final do primeiro ano, se torna a cerveja nº 1 entre as importadas. Como consequência, torna-se necessário ampliar algumas fábricas, o que acontece com a Cebrasp. 1994 é um ano de mudanças e conquistas. A Administração Central da companhia sai do Rio de Janeiro e instala-se em São Paulo


Relativamente às conquistas, temos a incorporação da Companhia Anonima Cervecera Nacional, da Venezuela, no portfolio da empresa, passando aí a produzir-se a Brahma Chopp. São inauguradas igualmente mais duas filiais: a Filial Santa Catarina, em Lages e a Fábrica de Luján, na Argentina. Este desenvolvimento chama a atenção da empresa norte-americana Miller Brewing Company, que constatou que o mercado cervejeiro estava em crescimento, especialmente na América do Sul. Em função disso, faz em 1995 uma joint venture (acordo) com a Brahma para distribuir a Miller Genuine Draft. Neste acordo, havia a possibilidade da Brahma fabricar a cerveja no Brasil para competir no mercado interno.
É exatamente o que acontece em Julho de 1996: a Miller Genuine Draft passa a ser fabricada pela Cebrasp e distribuída pela rede Exclusivas Brahma. A partir desse ano, o 0800 foi divulgado em todas as embalagens dos produtos e o consumidor também pôde optar pelo atendimento via carta e, desde Junho, via Internet. A companhia foi a primeira empresa de bebidas a oferecer esse serviço via Internet ao consumidor. As perguntas e sugestões dos consumidores geraram algumas mudanças de processos e contribuíram para o desenvolvimento de novas embalagens como a Malzbier long neck. Reforçando o seu carácter moderno, a empresa lança no mercado as novas embalagens long neck e lata com 355ml, já que esse é o padrão internacional de embalagens descartáveis. Para dar continuidade a essa modernidade e atender às necessidades do consumidor, a Malzbier Brahma, lançada em 1945, sofre uma modificação visual no seu rótulo e também entra no mercado com a embalagem long neck na versão 355ml.
         Os últimos dez anos continuaram a ser de crescimento, pelo que, muito naturalmente, se tomou a decisão de expandir o parque fabril. No início de 1996 é inaugurada a Filial Rio de Janeiro, no bairro de Campo Grande - RJ. Trata-se da maior fábrica de cerveja da América Latina, com capacidade de produção de 12 milhões de hectolitros por ano. É igualmente iniciada a construção de mais 2 unidades fabris: uma em Viamão (RS) e outra correspondente à Cervejaria Águas Claras, no município de Estância, Aracaju. O aumento da produção permite também um incremento nas exportações, pelo que em 1998 a Brahma Chopp passou a ser exportada para a Europa, utilizando como porta de entrada a França. Influência deste último país, ou não, o fato é que a chegada do novo milênio é comemorada com a introdução de uma Brahma Chopp em embalagem especial, muito similar a uma garrafa de champanhe. 

Em 1999, a Companhia Antarctica Paulista e a Companhia Cervejaria Brahma anunciavam a criação da Companhia de Bebidas das Américas (AMBEV), resultante da fusão entre ambas. Estava assim criado um gigante econômico.
         Em 2006, surge o Chopp Brahma Black. Trata-se de um chopp estilo Lager, escuro, com adição de nitrogénio, o que torna a bebida mais leve e com uma espuma muito mais estável e cremosa.
Nota: algumas da informações aqui contidas foram desenvolvidas com base no site Cervisiafilia